A primeira vida da Uncialis
As Unciais evoluíram a partir da Capitalis Quadrata;
algumas versais, como o H e o M, ficaram com formas arredondadas, porque estas
são mais fáceis de escrever.
Outras formas ficaram quase iguais, pois já eram
redondas. As Unciais foram usadas desde fins do século IV até ao
século VIII por escribas latinos e gregos para grafar a totalidade de um
dado manuscrito. Significa que durante esta «fase arcaica», a
Uncial domina o documento completo, sem concorrência de qualquer outro
estilo de letra.
As primeiras manifestações da Uncialis em
textos latinos são letras largas, simples e claras, amiúde
lançadas com dois ou poucos mais traços, tirando partido da
superfície lisa do pergaminho, que então começava a
substituir o papiro (o papiro, de superfície mais rugosa, pede letras
mais angulosas, e compostas de vários traços). |
A segunda vida da Uncialis
No século VIII, a Uncialis entra lentamente em
decadência. Contudo, como que pressentindo a sua primeira morte, a letra
uncial passa muitos dos seus traços típicos à letra que
passará a dominar a escrita nos países europeus: à
Carolina.
A partir de 800, a Uncialis já só foi usada
como headline font ou display script, em títulos e
subtítulos dos livros caligrafados com a Carolina ou com as diversas
Góticas. Observa-se então uma hierarquia de estilos de letra, que
dá primazia à Capitalis (para os títulos), depois à
Uncialis (para os resumos ou subtítulos) e finalmente à Carolina,
para o texto corrido.
Em Portugal, a Uncialis decorativa funde-se por vezes com a
Versal visigótica, resultando um estilo caligráfico ornamental
difícil de enquadrar e classificar. O uso da Uncialis como letra para
destaques prolonga-se até ao século XII. |
A terceira vida da Uncialis
A Uncialis torna-se numa letra de características
«aristocráticas»; muitas vezes, aparece só uma vez
numa dada página, ofuscando com a sua carga ornamental as letras mais
«plebeias» do texto corrido.
Torna-se uma letra de pura ostentação, e
poucas mais lhe fazem concurrência. É nesta missão que
vamos encontrar a Uncialis tardia, por exemplo, no primeiro livro impresso, na
Bíblia de 42 linhas, de Gutenberg. Este impressor alemão
reservou espaços para o iluminador desenhar as letras ornadas: as
iniciais e as cabeças de capítulos. As iniciais, que neste
primeiro livro tipográfico foram pintadas à mão,
são unciais.
Também alguns títulos de capítulo,
assim como subtítulos, são formados com unciais. Em milhares de
incunábulos continuamos a ver a Uncialis como letra capitular, assumindo
a sua função de orientar o leitor para o início das
subdivisões de um texto. |
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1. Uncialis Lyon. A mais antiga versão
da versal uncial librária, praticada a partir do século iv.
2. Uncialis Corbie. Versal uncial
librária, praticada no século vii.
3. Unciais cisterciences decorativas,
alongadas e condensadas, num manuscrito medieval português. Com mistura
de formas da Visigótica. Fonte digital com múltiplas ligaturas de
época.
4. Uncialis lapidar medieval. Alta e
condensada. Baseada na inscrição funerária de Pedro
Franco. Igreja-colegiada de Santiago, Coimbra, 1197.
5. Uncial Coimbra. Uncialis librária,
baseada nas letras de um manuscrito existente na Biblioteca da Universidade de
Coimbra. |
6. A fonte digital Iudith.
7. Uncialis para capitulares.
Mostruário de letras, manuscrito Plimpton MS 296, da Rare Book and
Manuscript Library da Universidade de Columbia.
8. Uncialis baseada na caligrafia da perita e
docente alemã Hildegard Korger. Século XX.
9,10. Dois alfabetos versais de unciais
decorativas, da era vitoriana. Século XIX. |