Os Tratadistas renascentistasOs mais importantes teóricos da letra renascentista, em Itália, França, Alemanha e Espanha.Maioritariamente, os scriptores medievais traçavam as letras à medida do olho, seguindo de perto os cânones da ortodoxia monástica. Os calígrafos italianos da Renascença pensavam obter uma qualidade estética superior usando a régua e o compasso para construir as letras. Para estes humanistas, a perfeição e a harmonia das artes baseavam-se numa estética articulável em proporções numéricas e traduzível por figuras geométricas elementares; é a época do corte áureo. Na Renascença, estadistas, filósofos, poetas, cientistas, matemáticos, artistas e arquitectos recriavam o pensamento dos filósofos gregos e romanos, pesquisavam e reproduziam os antigos ideais estéticos. Consequentemente rejeitavam as letras góticas, que consideram «bárbaras», e as romanas reentraram em uso. Mal a tipografia foi introduzida no Norte da Itália, os humanistas intelectuais progressistas da Renascença quiseram ver as suas obras impressas com tipos desenhados com régua e compasso, harmonizados em «proporções ideais». Os primeiros tipógrafos a trabalhar em Itália, que muito depressa começaram a usar as belas romanas, também moldaram os seus tipos de chumbo com formas derivadas de construções geométricas seguindo ao mesmo tempo os excelentes padrões dos calígrafos humanistas. MORE GEOMETRICOMORE GEOMETRICO de maneira geométrica foi o processo preferido durante a Renascença para edificar construções e criar magníficas obras de arte; assim, também a caligrafia, e logo a seguir a tipografia, foram sujeitas às «proporções ideais». Desenharam-se de more geometrico caracteres de belas proporções, produtos do raciocínio matemático-lógico da época. Para os scriptores e calígrafos italianos da Renascença, a inscrição de referência era a lápide gravada que está na base da Coluna de Trajano. Esta famosa inscrição, que teria sido realizada por Apolodoro de Damasco, um artista grego ao serviço dos romanos, serviu de inspiração a inúmeros calígrafos e tipógrafos; as suas letras eram (e são) consideradas o mais requintado e elegante padrão das letras latinas, um verdadeiro non plus ultra em clareza, legibilidade e requinte estético. Já no Quatrocento despertara na Itália o interesse pelas inscrições lapidares nos monumentos da antiguidade grega e romana; este interesse persistiu até 1530. Paralelamente aos estudos sobre as proporções ideais (ou «divinas») do corpo humano (lembremos os famosos desenhos de Leonardo da Vinci e de Albrecht Dürer), publicam-se vários tratados sobre a estética e as proporções das letras versais romanas. Comum a todos esses tratados, cujas publicações se prolongaram por mais de 150 anos, é a inserção das letras no quadrado, a forma geométrica considerada mais «pura» e «elementar ».
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