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Produção em série, produção industrial

Gutenberg e os tipos móveis

Johannes Gutenberg nasceu entre 1393 e 1405. Acredita-se que, devido à sua habilidade técnica e comercial, tenha tido uma formação profissional à altura da sua classe social, numa escola monástica ou numa universidade.

Já quase com 40 anos de idade, ele funda, com parceiros, uma empresa para confeccionar espelhos para peregrinos a caminho de Aachen. No processo de fabricação já se adivinha a futura fundição de caractéres de metal.

Prossegue, simultaneamente, um projecto secreto, com uma forma e uma prensa, sobre o qual os seus parceiros de negócio tinham de manter sigilo absoluto. Os documentos de Strasburgo não revelam nada além disso. Alguns pesquisadores crêem que se tratava de experiências para a impressão de livros.

Há algum tempo já estavam em uso prelos para a impressão de gravuras (os famosos Blockbücher). Mas os livros de Gutenberg não foram gravados com blocos de madeira.Para fabricar mecanicamente livros, Gutenberg (que tinha aprendido o ofício de ourives) combinou várias das suas invenções revolucionárias. A combinação conduziu ao resultado final: o processo tipográfico, utilizando tipos móveis, fundidos em metal.

Primeiro foi necessário fabricar punções - patrizes. Estes carimbos – também chamados patriz - molde macho – eram gravados em aço duro.

Com estes punções eram gravados numa matriz de metal mais macio, em cobre. Resultavam glifos de forma negativa.

Fabricar tipos de metal

Estas matrizes eram integradas no fundidor manual – outra importante invenção de Gutenberg. A cavidade do fundidor era preenchida com uma liga, a 300°C. Esta liga de metais - chumbo e antimónio - tinha que esfriar célere, para possibilitar uma produção rápida. No estado frio e sólido tinha que ser dura, para que os tipos fundidos durassem várias impressões.

Os tipos eram guardados em caixas tipográficas bem ordenadas. Quando era o momento de fazer um livro, o artesão compositor retirava-os da caixa, para juntá-los no componedor, formando as palavras de uma linha de texto.

A famosa B-42 – Bíblia de 42 linhas –, das quais apenas se conservam 48 exemplares de uma edição total estimada em 180 exemplares, saíra de um prelo, e era portanto um documento impresso.

Detalhes sobre a obra-mestra de Gutenberg, a Bíblia de 42 linhas (B-42).

A tinta de impressão para papel e pergaminho também foram inventadas por Gutenberg. Uma tinta com alta viscosidade, que não permeasse o papel, pois o verso da folha também era impresso. A tinta devia de secar rapidamente, para não demorar o processo de produção do livro.

Para produzir a tinta de impressão, Gutenberg misturou fuligem, resina e óleo de linhaça. A tinta era aplicada com duas almofadas, forradas de couro de cão e com crina de cavalo dentro. A pele de cão não tem poros, o que faz com que a tinta não seja absorvida pela almofada e permaneça na sua superfície.

A forma tinta - composição de tipos com a tinta aplicada – é colocada no carrinho da prensa. O papel ou o pergaminho são inseridos na tampa. Estes são colocados, então, sobre os caractéres tintos e o carrinho completo é colocado sob a placa da prensa.

Com ajuda do torniquete da prensa, imprime-se a placa com o papel sobre os caractéres. Enquanto um artesão imprime, o outro aplica tinta nos caracteres, sempre de forma alternada. A prensa fornece uma face de texto muito mais homogénea do que aquela que os melhores escribas da época eram capazes de fazer manualmente.

A invenção dos tipos móveis, em detalhe.

Singer, EUA
Singer Sewing Machine of 1851
Singer Sewing Machine of 1851

Embora muitos objectos e artefactos fossem durante longo tempo produzidos artesanalmente, cada vez mais aparelhos produzidos industrialmente surgiram – sobretudo para o uso doméstico.

Os mais rápidos avanços na produção em série de objectos de uso quotidiano foram registrados nos EUA. Já em 1851, Isaac Merritt Singer lançou no mercado a primeira máquina de costura para uso doméstico.

Mobiliário produzido em série

O austríaco Michael Thonet (1796 — 1871) teve um papel pioneiro na fabricação industrial de móveis. Thonet conseguiu desenvolver novos processos de produção na marcenaria, que levaram à criação de formas mais simples. Desenvolveu um processo para curvar peças de madeira de faia mediante a acção do vapor.

A cadeira Thonet Nº 24 (1859), móvel de madeira encurvada, é o protótipo dos modernos móveis de produção em série. Até os dias de hoje, foram vendidas mais de 100 milhões dessas cadeiras.

Um dos objectos mais antigos produzidos industrialmente, que é um exemplo da força duradoura do design industrial, é o canivete suíço.

Em 1874, começaram a funcionar em New York os primeiros eléctricos produzidos em série.

Na Exposição Mundial de Filadélfia de 1876 foi apresentado o primeiro telefone, e a partir do mesmo ano foram produzidas em série as primeiras máquinas de escrever.

Máquinas de escrever

A primeira máquina de escrever comercial foi a Sholes & Glidden Type-Writer, fabricada pelos armeiros E. Remington & Sons, a partir de 1874. Não foi um grande sucesso, pois apenas 5.000 exemplares foram vendidos. No entanto, Remington fundou uma indústria de dimensões universais, para introduzir a mecanização no processo da escrita. Desde os primeiros modelos, os fabricantes trataram de associar aspectos importantes do design: funcionalidade, durabilidade, e, se possível, formas estéticas.

Movimentos reformistas

De todos os movimentos reformistas do século XIX, interessam sobretudo aqueles que se ocuparam com a criação de novas formas. Os principais foram o movimento britânico Arts and Crafts, o movimento Jugendstil (nos países de fala alemã) e Art Nouveau (na França e nos países francófilos) e, mais tarde, o Werkbund alemão.

O movimento Arts and Crafts

O movimento britânico Arts and Crafts foi, de 1860 a 1880, uma reação à produção industrial em série. Pretendiam os seus protagonistas um regresso à qualidade artesanal, a um modo de produção que fizesse jus às qualidades do artesão especializado e ao material empregado.

O seu protagonista mais proeminente foi o seu pai espiritual: William Morris (1834-1896). Morris ciou, com alguns parceiros, seguindo modelos medievais, a empresa Morris & Co., que a partir de 1861 lançou móveis sólidos e relativamente caros, produzidos artesanalmente, tecidos estampados com corantes vegetais, tapetes tecidos manualmente, azulejos coloridos e vitrais.

À mixórdia estilística do Historicismo foram contrapostas formas mais definidas, assim como ornamentos inspirados na Natureza.

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