Construir manifesto de hannes meyerEm Outubro de 1928, o arquitecto Hannes Meyer publicou o seu famoso manifesto «Bauen» (Construir) na Revista da Bauhaus (bauhaus, zeitschrift für gestaltung).Todas as coisas deste mundo são produto da fórmula: (função x economia). É por isso que elas não são obras de arte: Toda a arte é composição e consequentemente não funcional. Toda a vida é função e por conseguinte não artística. A composição de um porto do mar é uma ideia cómica. Portanto: como conceber um plano para uma cidade? ou para uma habitação? composição ou função? arte ou vida? Construir é um processo biológico. Construir não é um processo estético. Construída de maneira elementar, a nova casa não é uma máquina de habitar, mas sim um aparelho biológico correspondendo às necessidades físicas e espirituais. A nova época propõe à Arquitectura doméstica novos materiais de construção:
Organizamos estes materiais de construção segundo os princípios económicos com o objectivo de realizar a unidade arquitectónica. Deste modo, aparecem por si próprias, impulsionadas pela vida, as formas particulares, a estrutura do edifício, a cor do material e a organização das superfícies. (Tornar agradável e ostentar não são critérios arquitectónicos.) (O primeiro agarra-se ao coração humano e não às paredes...) (O segundo penetra a atitude do dono da casa e não o seu tapete persa...!) A Arquitectura como realização de efeitos de artista não se justifica. A arquitectura como passos à frente da tradição arquitectónica está na direcção da sua história. Esta conceptualização biológica e funcional da arquitectura como representação formal do processo vital conduz logicamente à construção pura: o mundo das formas não tem pátria. É a expressão de ideias arquitectónicas internacionais. O caracter internacional é uma prioridade da época. A construção pura é o fundamento e o símbolo do novo mundo das formas.
Eis as únicas exigências a tomar em consideração aquando da construção de uma casa. O estudo do desenvolvimento do dia a dia de todos os habitantes da casa dá-nos um diagrama funcional para o pai, a mãe, a criança e os seus companheiros. A seguir analisam-se as relações que se estabelecem entre a casa e os seus habitantes com o exterior: carteiro, passeante, visitante, vizinho, ladrão, limpa chaminés, lavadeira, polícia, médico, empregada, camarada de jogos, contador do gás, artesão, enfermeira, fornecedor. As relações entre os homens e os animais com o jardim e as relações mútuas entre os seres humanos, os animais domésticos e os insectos da casa... Pre-fabricada, a nova casa é um produto industrial e como tal, uma obra de especialistas: economistas, estatísticos, higienistas, climatólogos, engenheiros, especialistas de normas... e o arquitecto?... De artista tormou-se num especialista da organização! A nova casa é uma obra social... A nova cidade, objectivo da prosperidade final, é uma obra conscientemente organizada, solidariamente...** Construir significa organizar os processos vitais de modo reflectido. Construir como processo técnico, não é senão um processo parcial. O diagrama funcional e o programa económico são as duas linhas directoras do projecto. Construir não é mais um exercício solitário e orgulhoso de um arquitecto. Construir é o trabalho colectivo de operários e investigadores; somente aquele que controla os processos vitais, dirigindo o trabalho colectivo... merece o nome de arquitecto. Construir depois de ser preocupação individual (derivado do desemprego e da falta de alojamentos), torna-se preocupação de toda a comunidade. Construir é apenas organizar: a vida social, técnica, económica, psíquica. BibliografiaUte Poerschke. Hannes Meyer - Connecting Poetics and Ethics. Pennsylvania State University |
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