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Kelmscott Press, por W. Morris
A Note by William Morris on his Aims in Founding the Kelmscott
Press
Escrito por William Morris em
Kelmscott House, Upper Mall, Hammersmith, no dia 11 de Novembro de 1895, um ano
antes de sua morte.
A Note by William Morris on his Aims in Founding the Kelmscott
Press, explica os conceitos da criação de tipos.
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EU COMECEI A IMPRIMIR livros com a esperança
de produzir alguns com clara pretensão à beleza, ao mesmo tempo
que fáceis de ler, sem ofuscar a vista nem perturbar a mente do leitor
pela excentricidade da forma das letras.
Sempre fui um grande admirador da caligrafia da Idade
Média, e das primeiras impressões. Quanto aos livros do
século XV, observei que sempre eram belos pela força da simples
tipografia, mesmo sem o acréscimo dos ornamentos que abundam em muitos
deles. E constituía a essência do meu empreendimento produzir
livros para os quais fosse um prazer olhar enquanto peças de
impressão e de organização dos tipos.
Olhando para a minha aventura por este ângulo, tinha
então de considerar os seguintes elementos: papel, o tipo, o
espaço entre letras, palavras e linhas; e, finalmente, a
posição da matéria impressa na página. Era natural
que eu considerasse necessário o papel ser artesanal, tanto em
razão da durabilidade como da aparência.
Seria uma economia falsa limitar a qualidade do papel
segundo o seu preço: só me restava, portanto, considerar que tipo
de papel artesanal. Cheguei a duas conclusões: a primeira era que o
papel deveria ser de puro linho (muitos papéis artesanais são de
algodão hoje em dia), e bem "duro", ou seja, bem encorpado; a segunda
era que, embora devesse ser "áspero" e não "liso" (...), as
linhas resultantes dos fios da forma não deveriam ser muito marcadas, de
modo a oferecer uma aparência riscada.
Descobri que eu me afinava com a prática dos
fabricantes de papel do século XV; tomei então como modelo um
papel bolonhês de cerca de 1473.
(...) Mais por instinto que por reflexão consciente,
adquiri tipos romanos. Queria uma letra pura na forma; sóbria, sem
excrescências supérfluas; sólida, sem o alargamento e
afinamento da linha que é a falha principal do tipo moderno comum e o
torna difícil de ler; e não condensada lateralmente, como todo
tipo recente vem se transformando devido a exigências comerciais.
Havia apenas uma fonte de onde tirar exemplos deste perfeito
tipo romano, a saber, as obras dos grandes impressores venezianos do
século XV, dos quais Nicholas
Jenson produziu os mais completos e romanos caracteres entre 1470 e 1476.
Estudei este tipo com muito cuidado, mandando
fotografá-lo em ampliação, e desenhando-o muitas e muitas
vezes antes de começar a desenhar minhas próprias letras; assim,
embora creia ter dominado sua essência, não o copiei
servilmente.
Em verdade, o meu tipo romano, sobretudo a caixa-baixa,
tende mais para o gótico do que o de Jenson. Passado certo tempo, senti que
precisava de um gótico, além do romano; e a tarefa que aí
me impus foi a de redimir o caractere gótico da ilegibilidade de que
é geralmente acusado.
E senti que tal acusação não se
aplicava aos tipos das duas primeiras décadas da imprensa: Schoeffer, em
Mainz; Mentelin, em Estrasburgo, e Günter Zainer em Augsburg, evitaram os
remates espigados e a compressão indevida que deixavam os tipos mais
recentes vulneráveis à mencionada acusação.
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Mas os protipógrafos (seguindo a prática de
seus predecessores, os calígrafos), eram pródigos em
abreviações e faziam uso excessivo das ligaduras que são,
por sinal, bastante úteis ao compositor. De modo que evitei
completamente as abreviações, com exceção do &,
e conservei muito poucas ligaduras, em verdade nenhuma além das
absolutamente necessárias.
Mantendo firmemente em vista o meu objectivo, desenhei uma
letra gótica que, creio, pode ser tão legível como um
romano e, para ser sincero, prefiro-a ao romano. Este tipo é do tamanho
chamado Great Primer (o tipo romano está em "English size"); mais
tarde, porém, fui levado pelas exigências do Chaucer (um
livro composta a duas colunas) a criar um gótico menor, de corpo Paica.
Os punções para todos estes tipos, devo
mencioná-lo, foram gravados para mim com grande inteligência e
habilidade por Edward P. Prince, e reproduzem bem fielmente meus
desenhos. Quanto ao espacejamento: primeiro, a letra deveria ser tão
adjacente quanto possível, de modo a evitar brancos indesejáveis
entre as letras. Por outro lado, os espaços laterais entre as palavras
não deveriam (a) ser maiores que o necessário para se
distinguirem claramente as divisões em palavras, e (b) deveriam ser
o mais parelhos possível.
Os tipógrafos modernos, mesmo os melhores, atentam
muito pouco para esses dois aspectos essenciais da impressão correta, e
os piores dão rédea solta ao espacejamento desregrado, produzindo
assim aqueles "rios" medonhos de linhas brancas escorrendo pela página,
que tanto prejudicam a impressão decente.
Terceiro, os brancos entre as linhas não deveriam ser
excessivos; a moderna prática do entrelinhado deveria ser usada o
mínimo possível, e jamais sem uma razão precisa como, por
exemplo, distinguir uma peça especial de impressão.
O único entrelinhado que me tenho permitido é,
em alguns casos, uma "fina" entrelinha entre as linhas do meu tipo
gótico paica (2): no The Chaucer e nos livros de duas colunas,
usei uma entrelinha mínima, e nem isso nos livros in-octavo.
Por último, mas essencial, vem a
posição da matéria impressa na página. Esta deveria
sempre deixar a margem interna mais estreita, a superior um tanto mais larga, a
externa ainda mais larga, e a inferior mais larga que todas. Esta regra nunca
é desdenhada nos livros medievais, manuscritos ou impressos. Impressores
modernos transgridem-na sistematicamente, contradizendo assim o facto de que a
unidade visual de um livro não é uma página, mas um par de
páginas (a página dupla).
Um amigo meu, bibliotecário de uma das mais
importantes bibliotecas privadas, contou-me que depois de um exame cuidadoso
chegou à conclusão que a regra medieval resultava numa
diferença de 20% de margem para margem. Ora, essas questões de
espaço e disposição são da maior importância
na produção de belos livros; se corretamente observadas,
farão com que um livro impresso em tipo bastante comum seja no
mínimo decente e agradável à vista.
Desconsiderá-las estragará o efeito do tipo mais bem desenhado.
Era natural que eu, sendo decorador por profissão,
procurasse ornamentar adequadamente meus livros: sobre esta questão,
direi apenas que sempre tentei manter em mente a necessidade de fazer de minha
decoração parte da página de tipos.
Acrescentaria que, ao desenhar as magníficas e
inimitáveis gravuras que ornaram vários dos meus livros, e
sobretudo vão adornar o Chaucer já em fase de
finalização, meu amigo Sir Edward Burne-Jones nunca perdeu
de vista este ponto importante, de modo que seu trabalho não só
apresenta uma série de belíssimas e criativas gravuras, como
constitui a mais harmoniosa decoração possível para o
livro impresso.
Kelmscott House, Upper Mall, Hammersmith. 11 de Novembro de
1895. |
2) paica é uma medida tipográfica. |
Temas relacionados
Os livros da
Kelmscott Press.
Biografia de William Morris.
Nicolas Jenson.
A fonte Centaur.
Página actualizada em 10.2007 |