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As letras góticas

Distinta do modelo carolíngio, a letra gótica teve origem por volta do século XI, na Bélgica e no norte da França.

Góticas primitivas, Bastardas

Em vários conventos medievais portugueses, como em muitos outros europeus, funcionaram scriptoria, oficinas caligráficas encarregadas de copiar textos religiosos — e por vezes, textos da Antiguidade.

Em Portugal, avultam os scriptoria do Convento de Alcobaça, da Serra de Ossa e do Mosteiro de Santa Cruz, em Coimbra. Os numerosos manuscritos do Convento de Alcobaça que hoje guarda a Biblioteca Nacional, em Lisboa, atestam a perícia artística dos monges de São Bernardo.

O scriptorium do Mosteiro de Santa Cruz nasceu no século XII sob o signo da Visigótica de transição, mas floresceu sob as múltiplas formas da Gótica.

Os 94 códices provenientes da Biblioteca do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, hoje na Biblioteca Pública Municipal do Porto, são um impressionante testemunho a evolução da escrita em Portugal ao longo de seis séculos.

Alguns desses códices vieram de mosteiros portugueses, outros de Espanha, de Itália ou de França, outros foram elaborados no próprio Mosteiro de Santa Cruz. Já no século XVI, este mosteiro viria a ter uma oficina tipográfica própria.

O imperativo de economizar espaço na folha de pergaminho transformou as escritas nos centros universitários medievais.

Os elementos que permitem identificar diversas Góticas a partir do século XII são: letras violentamente condensadas, com formas quebradas (fracturadas) ou geométricas, hastes e descendentes reduzidas, proporcionando mais letras por linha e mais linhas por página.

Esta compactação do texto foi ainda reforçada pelo uso contínuo de abreviaturas.

Gótica de Bolonha (1300-1400)

Uma das inúmeras variantes da Gótica, a letra de Bolonha – littera boloniensis – é pequena e compacta, com acentuada fractura dos traços, muitas abreviaturas, ligaduras quase imperceptíveis, hastes e caudas curtas – em terminologia moderna: a sua altura-x (veja glossário) é muito reduzida.

Paris, Bolonha e Oxford foram centros universitários de dinamização das inúmeras variantes da letra gótica. Estas três cidades universitárias foram os principais nichos de produção e difusão cultural onde se formaram tradições caligráficas independentes, bem diferenciadas pelo traçado e pelo tamanho das letras. Uma pouco por toda a parte, aparecem as Bastardas, variantes regionais da Gótica.

Rotundas

As Rotundas (redondas), que surgiram na Itália por volta de 1470, foram a expressão da resistência contra as Texturas, as esguias letras fracturadas que se escreviam mais ao norte na Europa. Quando vingou a «arte negra», a maior parte das oficinas tipográficas estava equipada com góticas bastardas, fundidas em metal. No caso de Gutenberg, estava equipada com uma Textura.

Textura manuscrita

C omo escrita librária em uso desde o século xiii, a Textura anulou radicalmente as curvas redondas, a favor das formas quebradas ou «fracturadas», com uma forte tendência para coagular letras contíguas, o que resultou numa forma de letra quase hexagonal, muito alongada.

Em Portugal, a Textura foi profusamente utilizada no scriptorium do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra nos séculos xiii-xv, na cópia de livros litúrgicos.

Na Alemanha, a esguia Textura foi a variante da letra gótica pela qual optou Johannes Gutenberg quando moldou em metal os primeiros tipos móveis.

A fraca legibilidade é uma característica negativa da Textura. As Texturas históricas alemãs eram altas, esguias, fortemente condensadas; assim foram reinterpretadas por F.W. Goudy no século xx e assim foram correctamente digitalizadas. Já o typeface designer Jonathan Hoefler desenhou uma Textura inglesa, bastante mais baixa, mais larga e gorda.

Góticas impressas

Uma aparente contradição na génese da tipografia reside no facto que o seu inventor, Gutenberg, introduziu uma tecnologia avançada, revolucionária, mas seguiu cautelosamente os padrões e as convenções estéticas do seu tempo, não alterando nada na forma das letras de origem caligráfica que usou nas suas impressões.

A grande renovação estética, orientada já pelos novos padrões do humanismo, ficaria reservada aos tipógrafos venezianos e seria consumada pelo gravador de punções Claude Garamond

Quando do advento da Imprensa, as letras góticas dividiam-se em dois grupos: os tipos angulosos, inspirados na minúscula gótica, e as Rotundas, letras arredondadas ou romanos, que tinham como modelo a minúscula carolíngia.

Johann Froben
Gótica tipográfica usada na impressão de um incunábulo de Johann Froben
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No século XV, os prototipógrafos tomaram a escrita gótica como modelo, reproduzindo com fidelidade os manuscritos e adoptando as capitulares e os ornamentos feitos pelos monges.

Links

www.scriptorium.columbia.edu/

Bibliografia

Heitlinger, Paulo. Tipografia: origens, formas e uso das letras. Copyright © 2006 Paulo Heitlinger, ISBN 10 972-576-396-3 , ISBN 13 978-972-576-396-4, Depósito legal 248 958/06. Dinalivro. Lisboa, 2006.

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