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Qual é a fonte mais apropriada para crianças?Parece banal e trivial, mas está longe de o ser. Um dos capítulos mais descurados na Educação Pública em Portugal é a aprendizagem do ler e do escrever. Um boa razão para resumir as opções que se apresentam em vários países.Este grave problema começa com a falta de ferramentas apropriadas, ou seja: faltam fontes tipográficas adequadas às capacidades cognitivas e motóricas das crianças na idade da aprendizagem. Confrontados professores e educadores portugueses com a pergunta «Qual é a fonte ideal para crianças?» surgem as mais disparatadas respostas, como por exemplo: «É a Times», ou então «uma letra gira, tipo Comic Sans». Confunde-se o sindroma do infantilismo venha mais uma letra pateta! com o «a letra adequada ao mundo infantil». Felizmente, em outros países já se fizeram os trabalhos de casa neste importante sector. Neste artigo vou divulgar alguns exemplos. AlemanhaBaseiam-se num desenho muito elementar e geométrico, para facilitar o desenho das formas; pertencem ao grupo que os alemães apelidam de «Druckschriften», que significa letras de impressão. De facto, este tipo de letra não tem ducto itálico, é uma letra «direita», como aquela que aparece em muitos documentos do mundo adulto. As linhas auxiliares são opções que fazem parte do pacote de fontes. A utilidade de fontes deste tipo é enorme, visto que permite aos professores elaborar folhas de exercícios par os alunos repetirem. Outra variante da «Druckschrift» é a que aparece num site austríaco: a fonte Druckschrift 95, que, obviamente, foi beber inspiração às DIN-Schriften. Segue-se uma fonte original, usada nas escolas alemãs: a NormSchrift: A NormSchrift letra normalizada é a fonte que foi escolhida pelos grupos de trabalho que se ocupam da letra escolar na Alemanha. Depois de considerar o pró e o contra, chegou-se à conclusão que é melhor treinar a criança com uma letra muito próxima daquela que ela vê impressa na grande maioria dos livros escolares: uma fonte simples e direita, sem serifas, sem ornamentos e «minhocas». Na Alemanha temos igualmente diversas «Schreibschriften», integrando o grupo das letras caligráficas, ligadas. As «Schulschriften», as tradicionais letras de escola, são letras ligadas, executadas com caneta de aparo, com um ducto típico, vulgarizado há muito tempo e proporcionando boa aprendizagem. Lateinische Ausgangsschrift foi uma das fontes oficiais com as quais as crianças alemãs e austríacas aprenderam a escrever e ler na Escola Primária. Veja www.schulschriften.de. As variantes suíças, as Schweizer Schulschriften de Hansueli Weber estão à venda em www.lothosoft.ch/schulschriften. Depois da Lateinische Ausgangsschrift, com bastantes traços redondos (veja o P e o R) veio a Vereinfachte Ausgangsschrift, uma versão simplificada, com traços mais direitos. Deste font, que também contem alguns glifos simples para treinar o ducto, faça o download grátis em www.pelikan.de FF Schulschrift
Excelentes dicas e moldes para fazer bom material pedagógico encontram-se em: www.kunstlinks.de/material/vtuempling/buchstaben/
Reino Unido
Conhecer a fonte Sassoon Primary é marcar encontro com Rosemary Sassoon (imagem ao lado) e a sua apaixonada investigação em busca de fontes apropriadas para crianças aprenderem a ler e escrever com menos esforço e maior sucesso. A Dra. Sassoon obteve o seu Ph.D. no Departamento de Tipo-gra-fia e Comunicação Gráfica da Universidade de Reading. «Rosemary Sassoon describes herself as a designer by trade, a letterform consultant and researcher, though she expressly points out that she is not a typographer». O designer Adrian Williams é parceiro de Rosemary Sassoon no Sassoon Font Project, responsável pela produção e marketing das fontes. Em resultado das análises obtidas com crianças, foi desenhada, entre outras, a Sassoon Primary School, disponível para compra no site www.clubtype.co.uk A edição 24 da revista inglesa Baseline, de 1997, apresentou a família tipográfica Sassoon, criada especialmente para utilização em material educativo nas escolas primárias quando as crianças estão aprendendo a ler e escrever. Rosemary Sassoon, designer da família de fontes Sassoon, preocupou-se em saber como as crianças percebem as formas das letras e considerou a opinião das crianças sobre fontes ao desenvolver sua família tipográfica. Consultou 50 crianças sobre a legibilidade de 4 tipos: Times Roman, Times Italic, Helvetica e uma fonte sem serifa. O resultado da pesquisa influenciou algumas decisões no desenho da fonte Sassoon Primary: uma pequena inclinação na fonte, aliar legibilidade e amigabilidade no desenho das letras, preferência pelo desenho sem serifa humanista temperado com pequenas serifas ou terminais na linha de base como se fossem as finalizações de ligação típicas de cursivas.
No site do Departamento de Tipografia e Comunicação gráfica da Universidade de Reading, Sue Walker e Linda Reynolds resumem alguns dos seus trabalhos sobre tipografia para crianças. Elas dividem o estudo do design de livros infantis em 3 níveis: micro (por exemplo: tipografia, espaçamentos entre palavra e variações de tipos como bold e italic), macro (a relação e interação entre imagens e texto, e o uso de espaços para estruturar elementos textuais), e o nível da materialidade do livro (tal como papel e tipo de impressão utilizados). Factores contextuais também são relevantes no desenvolvimento do projecto gráfico de livros: políticas de educação, pesquisas sobre legibilidade e visão, métodos de ensino da leitura, desenvolvimento da fonte e as práticas de manufactura e publicação dos livros. Elas organizaram um banco de dados com informação sobre o projeto gráfico de mais de 400 livros infantis. Além de disponibilizar todo este conhecimento eles tem o objetivo de descobrir que desenhos de tipografia funcionam para o ensino das crianças de hoje. O projecto KidstypeNo site kidstype.org encontra mais informações sobre o trabalho de Walker e Reynolds. Elas apontam a necessidade de mais pesquisas sobre o tipografia para crianças. Por exemplo, não existem estudos que comprovem se tipos serifados ou sem serifas são mais legíveis. Segundo elas, geralmente professores tendem a preferir fontes sem serifas por terem formas mais simples. Porém as crianças encontram um a variedade grande de tipos no seu cotidiano e elas raramente são questionadas sobre o que elas pensam sobre os tipos dos livros que elas lêem. Elas fizeram alguns testes comparando a quantidade de erros que as crianças cometem lendo textos compostos em Century (serifada) e Gill (sem serifa). Chegaram à conclusão que a diferença na performance da leitura entre estas fontes é insignificantemente pequena. O projecto também comparou a leitura de fontes com caracteres infantis, por exemplo ae g com um andar só e fontes com estes mesmos cartacteres com dois andares. Apesar de algumas crianças dizerem que acharam estes caracteres em dois andares mais difícies de ler isso não interferiu na sua performance. Eleas chegaram à conclusão que é mais importante escolher fontes que a diferença entre os caracteres tais como o, a e g sejam bem evidentes. A fonte Gill Educational tem esta qualidade, mas as fontes Avant Garde Gothic ou Helvetica não.
Outros testes mostraram que uma fonte mais informal pode motivar a leitura mas que as crianças tem mais facilidade de ler textos que aparentam mais familiares ou normais. The Fabula typefaceOne of the responsibilities of the Fabula team in the Department of Typography & Graphic Communication was to design the screen font for the presentation of Fabula story books on screen. In defining the criteria for this font we took into account the range of characters needed as well as stylistic qualities. Nan Jay Barchowsky escreveu BFH, a Manual for Fluent Handwriting, baseado na sua experiência de mais de 20 anos de ensino da caligrafia. As fontes Barchowsky Fluent Hand estão disponiveis em www.myfonts.com/fonts/swansbury/barchowsky-fluent-hand EUASchool Fonts for Beginning Writing, desenhadas por Kim Voss (da empresa norte-americana Ashleys Mom Inc.) e publicadas por Mayer-Johnson LLC, é uma colecção de 13 fontes para serem usadas em «educational materials for teaching reading, writing, and spelling». As fontes são vendidas em versões para Windows e Mac. Doze das fontes são oferecidas em versões dashed, adequadas para as crianças aprenderem a traçar as letras. A última fonte foi desenhada compatível com um jogo de letras de plástico, vendidas pela firma Lakeshore Learning Materials. Estas letras tridimensionais em plástico podem ser colocadas em cima de textos compostas com a fonte, de modo a permitir exercícios práticos de leitura, escrita e «Qual-é-a-letra-que-falta-aqui?» As Lakeshore plastic letters têm aprox. 1 1/4 de altura. As maiúsculas são vermelhas e as minúsculas azuis. Um excelente material didáctico! Detalhes em www.ashleysmom.com/pages/schoolfonts.html Block Letters Handwriting (K2) for D'Nealian ® worksheets www.schoolfonts.com/ |
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ChileBaseada na experiência que obtiveram com o desenvolvimento da fonte Tcl Lila, desenhada por Tono Rojas y Kote Soto para a Editora Marenostrum em 2004, os tipógrafos chilenos da Tcl decidiram fazer uma revisão e optimização do desenho alcançado, melhorando vários aspectos que aumentam a sua funcionalidade, ao mesmo tempo cumprindo os padrões estabelecidos pelo Ministério da Educação chileno. Aspectos da inclinação, das proporções e das lógicas de ligação entre letras, foram optimizados, confeccionando os especialistas chilenos um nove conjunto de fontes, que foi posto no mercado com o nome Tcl Cotona. Uma excelente iniciativa!
Esta necessária contribuição poderia ser apropriada para as necessidades de Portugal. Mais em: www.tipografia.cl www.tipografia.cl/blog/2006/10/18/tcl-cotona/ Brasil
PortugalFica aqui a sugestão à Porto Editora de estudar as vantagens das letras aqui apresentadas, para substituir a despropositada fonte que aparece nos Cadernos de Exercícios Caligráficos vendidos por esta editora, que, como é sabido, lidera as edições escolares e funciona quase como uma «instituição oficial» em matéria pedagógica. Histórico
PublicaçõesWatts, L. and Nisbet, J. (1974), Legibility in childrens
books: a review of research. Slough: NFER Publishing Company Limited Lund, O. (1999), Knowledge construction in typography: the case of
legibility research and the legibility of sans serif typefaces. Unpublished PhD
thesis, Department of Typography & Graphic Communication, The University of
Reading. Zachrisson, B. (1965), Studies in the legibility of printed text. Uppsala: Almqvist & Wicksell Zachrisson carried out a number of studies with school-age children that looked at various aspects of typography. Some of his studies are similar to those being carried out in the Typographic Design for Children Project. Raban, B. (1982), 'Text display effects on the fluency of young readers.', Journal of Reading Research, vol 5, no. 1, pp.7-28 This article considers the effect of line breaks on childrens reading performance. Heller, S. (1995), 'Type play for kids.', Eye,vol.5, no. 19, pp.44-53 This short article reminds us that designing for children can be fun. It has many examples of inspired designing for children. Walker, S. (1992). How it looks: a teachers guide to typography in childrens books. Reading: Reading and Language Information Centre and Department of Typography & Graphic Communication. This basic introduction draws attention to some of the issues that teachers should be aware of when they choose books for children to read Edwards. V. and Walker, S. (1995), Building bridges: multilingual resources for children. Clevedon: Avon: Multilingual Matters Walker, S., Edwards, V. and Blacksell, R. (1996), 'Designing bilingual books for children.', Visible Language, vol. 30, no. 3, pp. 268-83 This book and article look particularly at problems in designing bilingual texts for children. They are concerned with texts that combine English with non-Latin scripts, such as Urdu, Panjabi, Bengali and Gujarati. Ian Michaels The teaching of English - from the sixteenth century to 1870 (Cambridge: Cambridge University Press) is essential contextual reading, and it provides a comprehensive bibliography. R.L. Venezky The history of reading research. In D. Pearson, R. Barr, M.L. Kamil and P. Mosenthal, Handbook of Reading Research, 1, London:Longman, pp. 3-38, provides a good overview of work that has contributed to research about reading. Mason, J.H. (1913) 'The printing of childrens books.' ,The Imprint, no. 2, pp. 87-94 Morss, R.D. (1935) 'The neglected school book.', Monotype Recorder, vol. 34, no.2 Warde, B. (1950) 'Improving the compulsory book.', The Penrose Annual, vol 44, pp.37-40 Designing for screen Druin, A, and Solomon, C. (1996), Designing multimedia environments for children. New York: John Wiley, 1996 This is a good account (based on case studies) of what could be considered to be good practice. Walker, S. Reynolds, L. and Edwards, V. (1999), Interactive multimedia in primary schools: childrens use and understanding of information on CD-ROM: implications for teachers and designers. British Library Research and Innovation Report 157, British Library Research and Innovation Centre. This report provides a good bibliography of work in this area, and it draws attention to issues that should be considered by teachers and designers. Walker, S. and Reynolds, L. (2000), 'Screen design for childrens reading.', Journal of Research in Reading, vol. 23, no.3, pp. 224-34 A summary of some of the material in the above report. It includes research relevant to the design of texts on screen for children. Sue Walker (2005) 'The books that nobody sees: typography in
children's reading books',
Walker, Sue (2005) The songs the letters sing: typography and
children's reading. Caroline Archer; Walker, Sue; Linda Reynolds (2004) 'Typography in nineteenth-century children's readers: the Otley connection'. In: Light on the book trade: essays in honour of Peter Isaac, ed. Barry McKay, John Hinks and Maureen Bell, Oak Knoll Press and British Library, pp. 118-129 Linda Reynolds; Walker, Sue (2004) 'You can't see what the words
say': word spacing and letter spacing in children's reading books', Walker, Sue. (2003) 'Towards a method for describing the visual characteristics of children's readers and information books', Proceedings of the Information Design International Conference, 8-11 September 2003, Recife, Brazil [CD-Rom] Walker, Sue; Linda Reynolds (2002/3) 'Serifs, sans serifs and infant characters in children's reading books', Information Design Journal 11, 2/3, pp.106-22 (Palestra) Walker, Sue. 'Letters for writing and letters for reading: a case for simplified forms', Association Typographique Internationale, September 2005 (Palestra) Walker, Sue. 'The tales the letters tell: typography in children's readers', Printing Historical Society Conference, University of Cambridge, January 2004 Nicola Robson, 'Isotype for Children', Printing Historical Society Conference, University of Cambridge, January 2004 (Palestra) Sue Walker, 'Towards a method for describing the visual characteristics of children's readers and information books' at Information Design International Conference, Recife, September 2003 (Palestra) Walker, Sue. 'A picture is worth . . .'. Some thoughts about words and pictures from a design perspective', Invited talk at Multi-modality and applied linguistics conference (BAAL/CUP), The University of Reading, July 2003 (Palestra) Walker, Sue. 'Short words and large type: typography and layout in children's readers 1830-1930', Textbook Colloquium, University of London, Institute of English Studies, March 2003 Sassoon, Rosemary (1993) 'Through the eyes of a child - perception and type design'. In R. Sassoon (ed), Computers and typography. Oxford: Intellect Books Rosemary Sassoons typeface Sassoon Primary (and its variants) has had considerable impact within the field of educational publishing. This article refers to some of the research undertaken by Sassoon to show that Sassoon Primary is preferred by children in particular reading conditions. Sassoon, Rosemary. The Practical Guide to Calligraphy (Thames & Hudson) Sassoon, Rosemary. The Practical Guide to Lettering (Thames & Hudson) Sassoon, Rosemary. Creating Letterforms (Thames & Hudson) Sassoon, Rosemary. Practical Guide to Children's Handwriting (Hodder & Stoughton) Sassoon, Rosemary. Teach Yourself Better Handwriting (Hodder & Stoughton) Sassoon, Rosemary. Handwriting; The Way to Teach it (Paul Chapman) Sassoon, Rosemary. Computers and Typography (Intellect) Sassoon, Rosemary. The Art and Science of Handwriting (Intellect) Sassoon, Rosemary. The Acquisition of a Second Writing System (Intellect) Sassoon, Rosemary. Signs Symbols and Icons (with Albertine Gaur) (Intellect) |
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