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Muji, Mujirushi Ryohin

Muji não é uma marca. Talvez seja uma anti-marca. A Muji põe à venda «brandless quality products» — artigos criados para serem, supostamente, a antítese dos produtos de marca. Após 20 anos de internacionalização, e com um cerca de 6.000 produtos – que, no Japão, vão desde simples rebuçados a casas prontas a habitar –, a Muji tem mais de 400 lojas espalhadas por três continentes.

Muji é a abreviatura de Mujirushi Ryohin – que significa «artigos de qualidade sem marca». É um facto que parece um paradoxo: uma não-marca que ganhou notoriedade como marca. Mas a verdade é que nenhum dos produtos que é comercializado pela Muji ostenta marca – o que não quer dizer, obviamente, que não ostente image. Trata-se de uma filosofia de retorno à simplicidade no dia-a-dia? Blá-blá-blá.

Em nenhum dos produtos se vê a marca Muji, nem mesmo nas etiquetas de descrição de preço e do produto. Contratando designers famosos (como Naoto Fukasawa) ou utilizando o seu próprio estúdio, a multinacional Muji consegue criar produtos de qualidade, despretenciosos e acessíveis.

Esta estante do designer Masaru Kagaya é um sistema de módulos independentes que podem ser combinados. Enfatizando a função, é um típico sistema de estantes que permite que as prateleiras possam ser colocadas em várias posições. A forma, que simplifica a função, não se afirma completamente sobre o interior, mas pode ser usada em qualquer lugar.
Estante com prateleiras de aço; no mercado, com o mesmo desenho, há 14 anos.

Esta rede de lojas japonesas vende (quase) tudo: artigos de papelaria, móveis, utilidades domésticas, objectos de design, brinquedos, roupas, alimentos e muito mais.

O nome Muji é a abreviatura de Mujirushi Ryohin que significa «produtos de qualidade, sem marca». O seu lema é: o importante é o produto, e não a marca.

Muji cria produtos para uma «visão global de consumo» orientada para o futuro. «Isso significa que não criamos produtos que seduzem os consumidores por “esse é o melhor” ou “tem que ter isso”. Gostaríamos que nossos consumidores sentissem um sentimento racional de satisfação que vem, não com “isso é o melhor”, mas “isso é suficiente”. O “melhor” torna-se “suficiente”.”

O argumento da Muji é que a economia como a conhecemos já não é viável, e que a conviência harmónica entre os países só acontecerá se deixamos de enfatizar o que nos distingue.

Supostamente, é uma nova forma de pensar o design e o consumo, que leva em conta um freio, um limite. Algo que o consumismo enlouquecido que vivemos desconhece. E muitas pessoas compartilham desse tipo de pensamento…

Em termos de design, a Muji descreve que seus produtos são simplificados e baseia seu design nos melhores materiais, métodos de manufatura e forma.

Levando em consideração seus princípios, não se trata de torná-los o mais barato possível, nem usando o mais mais rápido e fácil sistema de produção (leia-se também mão de obra baratíssima). Seu design baseia-se “na verdadeira natureza do material fazendo o produto”.

Até por isso a escolha é por simplicidade, pois tira-se o desnecessário para tornar o produto mais acessível (em termos de preço, qualidade, e estética). Além disso, os produtos, principalmente móveis e compartimentos, são modulares.

Very trendy, very cool

Com o conceito de «no-brand» que nasceu nos anos 80, no Japão, a intenção é – supostamente – de fornecer produtos de boa qualidade, bem designhados. Mas como os produtos deste lifestyle business são orientados para um mercado global, não têm absolutamente nada a ver com particularidades regionais.

Há muita boa gente que já está farta do design minimalista, da Braun vintage, da IKEA, do ±O (www.plusminuszero.jp), etc. Em Portugal, ainda não estamos fartos; logo, a Muji chegou em boa hora. Em boa hora de crise.

Os preços da Muji são, em média, mais altos do que os da IKEA – esta é a opinião expressa na maioria dos blogs consultados para o efeito. Os produtos da Muji, quase sempre minimalistas, derivam – assim os apologistas –, da ponderada decisão de usar matérias-primas de primeira qualidade (?) e métodos de produção racionais.

As matérias-primas, vindas de qualquer parte do mundo, são transformadas de modo a fazer sobressair o objecto em si, que é depois apresentado com um envolvente elementar (ou mesmo sem packaging) para não o fazer parecer mais do que realmente é – um produto sem identificação de origem. O resultado deste processo será «a evidência da qualidade e da funcionalidade».

A marca no-brand com mensagem (www.muji.com/message) já se alargou por vários mercados (Ásia, Europa, EUA). Com grande atraso, a multinacional Muji lembrou-se agora de Portugal; abriu em fins de 2010 portas no Chiado, em Lisboa; a médio prazo quer ter cinco pontos de venda – o Porto será o próximo.

(Lembremos que também a IKEA só veio para Portugal depois de já ter implementado centenas de filiais por todo o mundo.)

No Japão, esta rede de lojas vende (quase) tudo: artigos de papelaria, móveis, utilidades domésticas, objectos de design, brinquedos, roupas, alimentos, automóveis, casas (!) e muito mais. Em Lisboa, a selecção é muito mais restricta, obviamente.

Em 2001, o designer gráfico Kenya Hara assinou como director criativo da Muji. Nesse ano a companhia associou-se à Nissan Motors, para comercializar o Muji Car 1000. Este carro de edição limitada, baixa emissão e preço reduzido, incorporou alguns materiais reciclados e seguiu – claro – a estratégia de no-brand, adoptada pela Muji desde o início, não pondo quaisquer logótipos no veículo. Esta cadeia de lojas, hoje uma poderosa multinacional, começou com apenas 40 produtos e hoje tem mais de 8.000, a gama vai desde vestuário à comida, passando por todo o tipo de objectos de escritório, cozinha, campismo, materiais de construção, etc.

Vários produtos Muji ganharam prémios de design de maior reconhecimento mundial, como os International Forum Design Award (IF) de Hannover.

Uma das principais características da Muji é de comercializar produtos funcionais e eliminar todos os extras supérfluos – ideias há muitas dezenas de anos defendidas e praticadas pelos minimalistas que trabalharam para a Braun: Otl Aicher, Dieter Rams, Hans Gugelot e outros asquetas minimalistas, como Max Bill, por exemplo.

Muji gosta da neutralidade, tons claros, tons beige. Muitos dos produtos não ostentam cor, e também não são descritos. Supostamente, os produtos identificam-se por si próprios; nós, como somos antiquados, gostaríamos de saber onde são feitos, por exemplo.

Diz-se que Muji não estaria interessada em explorar o (ai!) eternamente insatisfeito desejo do consumidor ávido por artigos de marca e «produtos de design» – quando os bem informados sabem muito bem que existem nomes «badalados» como Naoto Fukasawa, Enzo Mari (designmuseum.org/design/enzo-mari), Jasper Morrison, Konstantin Grcic (www.konstantin-grcic.com) e Sam Hecht (www.industrialfacility.co.uk) a sustentar toda uma série de produtos cool vendidos pela cadeia Muji.

Shibumi

A discreção da companhia — uma falta de eloquência quase única neste ramo — reflectiria a determinação de reduzir o produto ao seu essencial. Quem conhece algumas facetas da maneira de ser japonesa, facilmente reconhecerá na Muji uma aproximação ao conceito shibui.

Shibui é um adjectivo utilizado para designar uma sensação ou atitude estética. O substantivo que lhe corresponde é Shibumi. Shibui refere-se à sensação subjectiva produzida pela beleza simples, subtil e discreta.

Assim como outros termos do vocabulário japonês relacionados com a Estética (como Iki, ideal estético, ou wabi-sabi, simplicidade rústica, minimalista), shibui pode ser aplicado a uma vasta gama de sensações, sem ficar limitado à Arte ou à Moda, por exemplo.

O termo apareceu durante o período Muromaki (1333–1568), sob a forma shibushi, palavra que foi utilizada para designar um gosto ácido ou astringente, como o do dióspiro, antes de ficar maduro. Já no período Edo (1603–1867), a palavra faz referência a uma sensação estética agradável, sendo usada em contextos como o Canto, a Moda, o Artesanato e a Arte – para designar uma obra de beleza sóbria, discreta e eficaz. O conceito shibui chegou ao Ocidente em 1960; foi a revista norte-americana House Beautiful introduziu o termo.

Historial

Nascida há 30 anos num supermercado em Tóquio, a “não-marca” mais conhecida do mundo já conquistou as principais capitais e até já aterrou em Lisboa.

Foi em Paris, onde estudou, que Jordi Puig, espanhol, hoje com 40 anos de idade, conheceu a cadeia de lojas Muji. Jordi apaixonou-se pelo conceito, contactou os responsáveis japoneses e, há cinco anos, abriu a primeira Muji em Barcelona. Seguiu-se Madrid e, agora, Lisboa.

Tudo começou em 1980 quando uma cadeia de supermercados japonesa decidiu criar um departamento autónomo para vender os cerca de 40 tipos de produtos sem marca. As vendas aumentaram, a gama aumentou, em 1989, o departamento transformou-se numa loja independente – a Muji.

Cotado na bolsa japonesa, o grupo Muji emprega cerca de 4.000 empregados, espalhados por 460 pontos de venda em todo o mundo, 320 dos quais no próprio Japão. Em 2009, a facturação global tinha atingido os 1,3 biliões de euro. Em Portugal, quem gere a Muji é a sociedade Bracchium Retail Portugal S.L, a qual reúne capital das famílias Puig e Andreu, responsáveis pela introdução do «conceito Muji» em Espanha há quatro anos.

“A Muji encaixa muito bem em cidades cosmopolitas, e abrir uma loja em Lisboa sempre foi um objectivo” – diz o actual director-geral da Muji Ibéria.

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Naoto Fukasawa

Ligações externas

http://www.muji.eu

http://www.muji.co.uk/

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